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O quartinho da bagunça e a psicoterapia

  • espacosuperia
  • 14 de ago.
  • 3 min de leitura
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Quando eu converso com alguém sobre o que é fazer psicoterapia, eu geralmente explico o processo usando a analogia de um quartinho da bagunça. 


Eu digo que fazer terapia é como a gente arrumar o quartinho da bagunça em casa. 


Quase todo mundo, senão todo mundo, tem em casa um cantinho, nem que seja uma gaveta, um armário, ou mesmo um quartinho inteiro onde colocamos a bagunça, todo o tipo de coisa que não parece ter um lugar certo em casa acaba parando lá. 


Se numa casa, geralmente as coisas cada uma tem o seu lugar (a gente não costuma guardar panela no quarto ou comida no banheiro, né!), o quartinho da bagunça é onde são colocadas as coisas que parecem não pertencer a um lugar definido: coisas antigas como álbuns de fotografia, par de patins que não são mais usados, algum eletrodoméstico quebrado que a gente talvez um dia ainda queira consertar, caixa de ferramentas, pneu de bicicleta, barraca de camping, um serrote que era do meu pai, tinta que foi usada na pintura de cinco anos atrás. 


Muitas vezes, quando a gente tenta pegar algo alí, fica difícil o acesso: às vezes caem coisas em cima da gente, às vezes algo que está escondido por alí está fazendo falta para alguma coisa de fora funcionar e a gente nem sabe o quê, outras coisas talvez não sirvam mais e nem deveriam mais estar sendo guardadas. 


Esse quartinho da bagunça é meio que o nosso inconsciente, coisas que fomos acumulando, juntando, guardando ao longo da vida que não temos mais acesso fácil, e muitas vezes nem sabemos porquê estão lá. Podem ser traumas, ou memórias, histórias antigas, sentimentos diversos soltos e desconectados do seu lugar de origem. Isso tudo acaba afetando a nossa vida. Coisas antigas, e coisas novas que vamos jogando pra lá sem muito pensar sobre. 


A gente precisa parar para organizar tudo isso. Só que para organizar essa bagunça, a gente tem que fazer um pouco mais de bagunça. Tem que tirar tudo primeiro, espalhar tudo e olhar cada coisa, pensar se é lá mesmo o lugar dela, se ainda serve para alguma coisa e esse processo é muito difícil. Se é difícil abrir mão de coisas concretas de nossa casa que guardamos nos nossos quartinhos reais, imagine como é difícil olhar para as coisas que guardamos dentro da gente, lá no fundo, e ter que admitir que elas estão no lugar errado ou que tem um lugar melhor para elas, ou entender o lugar onde elas estão de verdade. 


O processo de psicoterapia é um pouco isso, é olhar para dentro da gente, de forma honesta, olhar para aquilo que lá de dentro está afetando algo aqui de fora, talvez a gente esteja culpando alguma pessoa na nossa vida por traumas e sofrimentos que são muito anteriores àquela pessoa na nossa vida e é difícil admitir isso, porque é mais fácil lidar com o concreto. Talvez situações que vivemos despertem uma reação muito mais intensa do que justificado porque na verdade são gatilhos para algo que temos guardado ali. Talvez tenha algo que eu nem sei que me emperra a vida, aquele “eletrodoméstico quebrado” que eu sei que não vou consertar, mas do qual não consigo abrir mão. 


Não é fácil organizar essa bagunça, mas depois que está tudo organizado, a vida flui melhor. Não tem milagre, aquele ainda vai ser o quartinho da bagunça, ainda vamos precisar de um lugar para guardar algumas coisas, mas agora eu já sei que ele existe e não tenho mais medo de encará-lo de frente. 


 
 
 

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